quinta-feira, 30 de julho de 2009

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passa na cabeça do autor quando ele escreve seu texto. É, antes, inferir. Se eu disser: “Levei minha filha caçula ao parque.”, pode-se inferir que tenho mais de uma filha. Ou seja, inferir é retirar informações implícitas e explícitas do texto. E será com essas informações que o candidato irá resolver as questões de interpretação na prova.

Há de se tomar cuidado, entretanto, com o que chamamos de “conhecimento de mundo”, que nada mais é do que aquilo que todos carregamos conosco, fruto do que aprendemos na escola, com os amigos, vendo televisão, enfim, vivendo. Isso porque muitas vezes uma questão leva o candidato a responder não o que está no texto, mas exatamente aquilo em que ele acredita.
Vamos a um exemplo.

É mundialmente reconhecida a qualidade do champanhe francês. Imaginemos, então, que em um texto o autor trate do assunto “bebidas finas” e escreva que na região de Champagne, na França, é produzido um champanhe muito conhecido. Mais tarde, em uma questão, a banca pergunta qual foi a abordagem do texto em relação ao tema e coloca, em uma das alternativas, que o autor afirma que o melhor champanhe vendido no mundo é o da região de Champagne, na França. Se você for um candidato afoito, vai marcar essa alternativa como correta, certo?, sem parar para pensar que o autor não havia feito tal afirmação e que, na verdade, o que ele assegurou foi que há um champanhe que é muito conhecido e que é produzido na França. O fato de possivelmente ser o melhor do mundo é uma informação que você adquiriu em jornais, revistas etc. Entendeu a diferença?

Propositadamente, a banca utiliza trechos inteiros idênticos ao texto só para confundir o candidato, e ao final, coloca uma afirmação falsa. Cuidado com isso!

Contudo, não basta retirar informações de um texto para responder corretamente as questões. É necessário saber de onde tirá-las. Para tanto, temos que ter conhecimento da estrutura textual e por quais processos se passa um texto até seu formato final de dissertação, narração ou descrição.

Como o tipo mais cobrado em provas de concurso é a dissertação, vamos entender como ela se estrutura e em que ela se baseia.

Quando dissertamos, diz-se que estamos argumentando. Mas argumentando o quê? A respeito de quê?

Para formular os argumentos, antes necessitamos de uma tese, algo que vamos afirmar e defender, a respeito de um determinado assunto.

Então, por exemplo, se o assunto é “Aquecimento global” é imperativo apresentar uma tese baseada nele. Pode-se escrever “O aquecimento global tem sido motivo de preocupação por parte dos cientistas”, ou “A população deve preocupar-se com o superaquecimento do planeta” etc. O importante é que na tese esteja claro aquilo que deverá ser sustentado por meio de argumentos.

O próximo passo é estabelecer quais argumentos poderão ser utilizados para tornar a afirmação feita na tese cada vez mais sólida.
Apresentados os argumentos, basta concluir a dissertação.

Tudo o que aqui foi exposto é apenas ilustrativo para que se tenha idéia de como um texto é estruturado e, a partir daí, estudar o texto apresentado e procurar no lugar certo a resposta para cada questão.

Vejamos:

Normalmente, a tese é explicitada na primeira frase do primeiro parágrafo, coincidindo com o que chamamos de “tópico frasal”, aquela sentença que usamos para chamar a atenção em um texto e apresentá-lo de forma clara. Mas ela pode aparecer também na última frase do primeiro parágrafo.

Disso decorre que sempre que precisar encontrar a tese do texto para responder a questões sobre o que o autor pensa, por exemplo, deve-se procurá-la no primeiro parágrafo.

Todavia, se a banca quiser saber em que o autor se fundamentou para fazer tal afirmação, basta procurar a resposta nos parágrafos em que forem apresentados os argumentos.

Por exemplo, na última prova do MPU, cargo Analista Processual, da banca Fundação Carlos Chagas, foi perguntado aos candidatos o que revelava a argumentação do autor. Dentre as alternativas apresentadas, bastava saber qual era fundamentalmente um argumento utilizado pelo autor e o que ele demonstrava.

É, portanto, muito importante conhecer a estrutura de um texto para saber trabalhá-lo de forma a fazer com que ele seja um aliado na conquista de um cargo público.

TESTES - 3º CIENTÍFICO

Testes para entregar somente o gabarito:


01. Qual das frases abaixo está incorreta?
a) Há muitos alunos naquela sala.
b) Comprei bastantes figurinhas para o meu álbum.
c) Quero que entenda-me: não sou esse tipo de pessoa.
d) Vamos apreçar o negócio!
e) V.Exa. não tem o direito de proferir tais acusações.

02. Qual a alternativa certa?
a) Condições metereológicas ou meteorológicas?
b) Carangueijo ou caranguejo?
c) Chimpanzé ou chipanzé?
d) Chegou de sopetão ou de supetão?
e) Cabelereiro ou cabeleireiro?

03. Uma das palavras abaixo não corresponde à significação a ela atribuída. Qual é?
a) Apóstrofe: interpelação direta e imprevista. Ex: "Deus, ó Deus! Onde estás que não respondes..."
b) Bimensal: evento que ocorre de dois em dois meses.
c) Cerrar: fechar, unir duas partes, obstruir abertura.
d) Concerto: ação de fazer soar, harmonizar.
e) Discriminação: distinguir, segregar.

04. A oração seguinte apresenta um defeito. Qual?"A fábrica garante o produto contra todos os defeitos de fabricação, exceto os decorrentes de uso indevido."

05. Identifique o problema da frase: "As aquisições feitas pelo grupo estão na casa de US$ 5,4 bilhões, incluindo as participações dos sócios da VBC em cada operação."

06. Acentue os 'as' que pedem crase:
a) Vai a Fortaleza amanhã.
b) Obedece a todas as leis.
c) Ele foi a Brasília de todos os santos
d) Compareceu a CPI ontem
e) Ela é temente a santa Úrsula

07. Identifique o que há de discutível nessa frase:"Conhecer a língua é indispensável para se produzir um bom texto."

08. A regência é um dos mecanismos que indicam as correlações entre as palavras. Observe os enunciados que seguem:
I- Afinal fez-se justiça ao senador que o Senado denunciava.
II- Afinal fez-se justiça ao senador que do Senado desconfiava
III- Afinal fez-se justiça ao senador de que o Senado desconfiava.

Há ambigüidade:
a) Só em I.
b) Só em II.
c) Só em II e III.
d) Só em I e II.
e) Em I, II e III.

09. No uso de pronomes pessoais há nítidas diferenças entre as variantes do português. Assinale a alternativa em que o uso está de acordo com a variante culta escrita.
a) Entre os convidados e eu estavam algumas pessoas estranhas.
b) Não deixaram ela dizer nenhuma palavra.
c) Se fosse para mim decidir, eu não aceitaria a proposta
d) V. Exa. conhece bem seus assessores e o eleitorado que o apóia.
e) Não lhe deixou em paz durante a reunião.

10. As duas frases abaixo são de uma entrevista de Fidel Castro, dada a um jornalista. Intencionalmente não identificamos o responsável pelas falas: - Em Cuba, até as universitárias são prostitutas.- Em Cuba, até as prostitutas são universitárias. Aponte a alternativa incorreta:]a) As duas frases apresentam as mesmas palavras e, por isso, têm o mesmo sentido.
b) A primeira frase expressa uma crítica do jornalista ao regime cubano.
c) A segunda frase ressalta os progressos conseguidos por Cuba na educação pública.
d) Na segunda frase Fidel Castro argumenta em favor de Cuba.
e) A primeira frase sugere que, em Cuba, os profissionais em geral são muito mal pagos, independentemente do seu grau de escolaridade.

O BOM GERÚNDIO

É preciso cuidado para que o combate ao gerundismo não torne marginais os usos legítimos de locuções com gerúndio
Luiz Costa Pereira Junior



O uso indiscriminado do gerúndio - a endorreia, o emprego viciado de formas como "vou estar passando o recado" - pode estar longe de ser erradicado, mas já tem uma vítima involuntária: o próprio gerúndio.
Uma década depois de o fenômeno se propagar feito gripe pelo país, especialistas começam a perceber que o combate ao uso repetitivo do gerúndio nas perífrases (dois ou três verbos numa locução verbal) criou em muita gente uma aversão a qualquer tipo de gerúndio, mesmo quando este é a forma mais adequada para apresentar uma ideia.
A adoção do gerúndio na locução acima é válida porque mostra
um futuro em relação a outro futuro, com ações diferentes feitas
simultaneamente.
Para a professora de português da USP Elis Cardoso de Almeida, vive-se hoje o efeito colateral das campanhas de combate ao vício, com risco de confusão entre as construções sintáticas condenadas e as de uso corrente.
- Pode acontecer com o gerundismo o que ocorreu com construções como "a nível de", que sofreu retração de uso ao ser discutida intensamente em público. Mas não se pode esquecer que há um uso adequado quando está em jogo a ideia de futuro durativo ou contínuo, como em "Não vou poder entregar o texto pois na ocasião vou estar viajando".
Há quem evite o trenzinho verbal ("vou estar + gerúndio") para não dar ao ouvinte a impressão de que houve má aplicação. O comum, no entanto, é reprimir as perífrases por hipercorreção - corrigir o que se considera erro até quando não há, numa falsa analogia que se imagina correta e requintada, por equivaler a outra.
Fora da escrita o exagero do combate, no entanto, pode levar a distorções comunicativas. O gerundismo é considerado, por exemplo, pouco econômico. Afinal, é mais longa a construção "vou estar conversando" do que o futuro simples "conversarei" ou o composto "vou conversar". Tornada atitude crônica, a concisão pode ser não raro imprecisa, lembra o linguista da Unicamp, John Robert Schmitz. Segundo ele, nem sempre as formas mais econômicas do que o trenzinho verbal evitam problemas. Imaginemos um recente folheto de orientação de trânsito do governo municipal de São Paulo:
"Cuidado: mesmo que os automóveis estejam parados, os ônibus, motos e táxis podem estar andando na faixa exclusiva". O "podem estar andando" daria lugar a outro sentido se fosse substituído por "podem andar". No primeiro caso, há alerta. No outro, uma liberação. O problema, dizem os especialistas, é quando se condena o uso do gerúndio em qualquer perífrase, com comandos como: "O gerúndio nunca vem depois de um verbo no infinitivo".
- Não dá para condenar o uso da locução sem examinar seu contexto. Faz sentido dizer "vou estar providenciando" se de fato vou ficar muito tempo fazendo isso - declarou à Língua a professora Maria Helena de Moura Neves, da Unesp.
É preciso pôr os pontos nos ii, portanto. O gerúndio (amando), o infinitivo (amar) e o particípio (amado) são formas nominais do verbo porque, embora com valor verbal, desempenham a função de substantivos e adjetivos. O particípio "amado" apresenta ação concluída. O infinitivo "amar" é pontual: traz o processo verbal em potência; exprime a ideia da ação ou do evento. O infinitivo pode ter função de substantivo (amar é sofrer = o amor é sofrimento). O particípio pode funcionar como adjetivo (mulher amada). Já o gerúndio pode ter função adverbial ou adjetiva (chovendo, não jogarei = se chover, não jogarei; água fervendo = água fervente). Ele flagra o processo verbal em andamento. É diferente dizer "caiu do cavalo e esfaqueou o oponente" e "caindo do cavalo e espetando o oponente". A segunda oração dá ideia de movimento que a outra não tem. "Caindo" e "espetando" descrevem ação contínua, mas que não acabou ou evolui sem hora para ser concluída.
Endorreia a estrutura com três verbos ("ir" + "estar" + gerúndio), por sua vez, traz os auxiliares "ir" no presente do indicativo (vou, vai, vamos), que remete a ação para o futuro, e "estar", que emite a sensação de continuidade da ação. Um primeiro problema é quando se usa esse trem verbal para indicar uma duração que a ação não pede.
"Não ligue amanhã pois vou estar viajando" significa que a viagem não se resume a um dado número de horas, mas a pessoa terá todo o dia afetado por ela. Quando a informação não supõe essa duração, há curto--circuito comunicativo.
Assim, ao ouvir "vou fazer", o interlocutor entende que assumimos um compromisso com ele, mas "vou estar fazendo" pode lançá-lo à expectativa - se esta não é a intenção de quem fala, o gerundismo se instala. Se usado para comunicar uma ação que durará no tempo ou se repetirá no espaço, o trem do gerúndio se ajusta à função desejada . Caso contrário, é como usar uma chave de fenda para bater pregos.
Pouco interessa a origem do vício. O gerundismo bem pode ter nascido de contextos de formalidade, em que um intermediário é encarregado de mediar o contato de seus superiores com estranhos. Onde há expectativa de uma pessoa em torno da ação de outra, o gerundismo pode proliferar.
Brasilidade há quem desconfie que o gerúndio seja uma preferência nacional. Idiomas como alemão, holandês e francês não desenvolveram formas verbais com ele. Outros não os têm com a abundância do sistema verbal brasileiro. Embora povos de língua inglesa e espanhola tenham gerúndio, nós o usamos com uma frequência e variedade que impressiona. A ponto de não ser incomum a tentação determinista de ver no gerúndio um traço cultural do país inteiro. A escritora Nélida Piñon, por exemplo, declarou à Língua que considera o gerúndio "um tempo verbal deslumbrante".
- O europeu é atado ao espartilho do infinitivo ("estar a fazer"). Nós, não. Nós temos a noção de que estamos agora aqui, mas daqui a pouco estaremos ali; há uma velocidade interna no nosso sentimento da língua, um nervosismo de estar em outro lugar que não aquele em que estivéramos até então. Temos necessidade de abranger um país amplo, de abarcar tantas experiências humanas, e o gerúndio corresponde a essa velocidade interior - defendeu Nélida.
Sob tal ponto de vista, o gerundismo marcaria uma oposição bem brasileira entre promessa e esperança, forma categórica e relativização. Tal ideia pode ser só um mito, mas a proliferação do trem verbal é considerada pelos pesquisadores de linguagem um exemplo, não o único, da produtividade do brasileiro em encontrar aplicações ao gerúndio.
Usos e abusos para o linguista José da Silva Simões, professor de alemão da USP, é alta a versatilidade brasileira no uso do gerúndio. Simões, que em 2007 defendeu tese de doutorado sobre o assunto, acredita que há contextos sintáticos em que o gerúndio pode ser usado para encobrir o sujeito que enuncia ou para evidenciá-lo.
Em sua forma não composta, em construções adverbiais, pode encobrir a autoria de uma ação. O sujeito apaga a sua pessoa e não se compromete, por exemplo, ao começar uma frase com condicionais, como "Pensando sob esse ponto de vista...". Aqui, o enunciador não quer deixar evidente sua condição de autoria, manifesta no equivalente "Penso que".
É o que pensa, também, o professor de letras da Uerj José Carlos Azeredo, para quem, na perspectiva enunciativa, o gerúndio pode servir a uma estratégia de dissimulação de autoria.
- O Brasil criou expressões em que o gerúndio se gramaticalizou como preposição ou advérbio. Em "Considerando que você é meu amigo, faça isso para mim", não é o falante quem considera. Há uma atribuição de autoria a um ser indeterminado. Uma vez que não traz marca do sujeito, e não tem flexão, recorre-se ao gerúndio para esconder a autoria da declaração.



Defesa

Como o trem verbal com gerúndio, esse tipo de construção é uma "defesa da face" do enunciador.- O enunciador constrói o enunciado de tal maneira que o preserva de ser responsabilizado pelo insucesso de algo - diz Azeredo.
Para Simões, o gerúndio é historicamente uma opção ao uso da conjunção causal (porque, pois, uma vez que), concessiva (embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, apesar de que) ou condicional (caso, quando, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que), mais impositivas.


Usos brasileiros do gerúndio: em alguns casos, como acima,
ele tem a função de dar estofo técnico ou de acentuar a ação


- Dizer "Não prestando atenção, o problema ocorreu" é uma maneira de atenuar o sentido dado pela conjunção causal em "Porque você não prestou atenção, o problema ocorreu" - esclarece Simões.
Trata-se de estratégia pragmática, que se fia na suposição retórica de que a recepção de uma formulação como "Se eu não achar a caixa preta do avião..." é diferente da de "Não se achando a caixa preta do avião...".
- Em construções adverbiais, como "Pensando nos órfãos", "Partindo do pressuposto da linguística" ou "Voltando ao assunto...", a pessoa delimita o campo de discussão ou redireciona o assunto que vem em seguida e evita formulações que o comprometam.
Segundo Simões, o gerúndio adverbial, por natureza uma construção formal, também serve para simular consistência. "Geograficamente falando" (em lugar de "Se você observar o aspecto geográfico da questão") estabelece um domínio de conhecimento, o suporte técnico em que se escuda a declaração.
Identificação:
O gerúndio brasileiro é rico o suficiente para ter casos em que intensifica a identidade, em vez de atenuá-la. Sem o sujeito, a oração adverbial pode delimitar domínio de conhecimento, direcionar o foco da conversa. Com sujeito, ela presentifica a ação e serve como digressão, num processo que, para Simões, lembra a nominalização.
É o traço comum de sentenças como "O que é isso, todos falando junto?", "Essa gente toda dependendo do pai" ou "As crianças, tudo precisando da família". O verbo aqui promove a presentificação de um evento, independentemente de ele ser passível de ser conjugado no presente, no passado ou no futuro. Traz consigo a ideia de continuidade, de atividade que se repete, mas essa repetição está cristalizada naquele momento. Assim é com "Todo mundo querendo dormir e você fazendo barulho", em que "querer dormir" é algo habitual, e o barulho interrompe o hábito. Ou: "Nós sempre aguentando os problemas com cara alegre" (sempre aguentamos).
O gerúndio veio do contexto formal. Era usado em textos litúrgicos e jurídicos. Do latim para línguas românicas, chegou à fala. No português de Camões eram comuns estruturas como "Estou cantando". Mas o português europeu se modernizou. O Brasil manteve a estrutura e a desenvolveu como Portugal não o fez.
- Nosso gerúndio saiu da formalidade e se reorganizou. Por isso temos tantos - diz Simões.
Verbo "estar"
A intensidade de uso das construções com gerúndio e particípio parece, de quebra, ter mudado a caracterização de verbos auxiliares que ladeiam o gerúndio no trem verbal.
Para Ataliba de Castilho, da USP, o auxiliar "estar", ligado a gerúndio ou particípio, mudou seu caráter morfológico e semântico. - Ele tem virado morfema prefixal que assinala ação acabada em "tá falado" - diz o professor.
Ali, com o particípio passado, diz Ataliba, "estar" assinala ação contínua que se aproxima do aspecto perfectivo (no sentido de "foi combinado", "concluído"), similar à do presente do indicativo.
- Talvez esteja sendo criada uma forma composta do presente do indicativo, sem diferença, por exemplo, entre "eu falo" e "estou falando". O presente é o único tempo que não tem forma composta, e o verbo "estar" parece garantir cada vez mais a existência de uma espécie de presente do indicativo composto.

Evolução


Nesse sentido, as construções com gerúndio precedido de "ir" + "estar" são reflexos de um desenvolvimento natural no idioma. - A repetição é que incomoda. Uma frase seguida da outra, sempre iniciada com gerúndio, torna qualquer texto pesado - diz Simões.
Para Elis Cardoso de Almeida, o problema mais grave com o gerundismo nem é a construção em si, mas sua frenética repetição. - É o problema do uso indiscriminado, sem caráter de duração. O lexicógrafo Francisco Borba diz que, com o movimento contrário à aceitação da endorreia, ela talvez não penetre na língua escrita.
A locução com gerúndio é apropriada se o verbo admite ação que se repete e se prolonga

- No jornalismo, esse tipo de construção chama atenção mais como gozação do que por deslize. Mesmo em vestibulares e concursos, no entanto, há construções reduzidas de gerúndio. Como quem escreve redações intui que deve adotar um registro culto, tende a adotar estratégia sintática que supõe culta. Não é incomum ver, por exemplo, um "Observando as ações do governo" sem a conjunção (Se nós observarmos).
É cedo para garantir que não haverá neutralização da distinção semântica que define o gerundismo como inadequado. Mas há domínios em que até ele é legítimo. O desafio, então, é familiarizar as pessoas com o registro adequado ao grau de formalidade exigido em cada situação. Pois, no fundo, o gerúndio talvez seja mesmo um retrato, não do brasileiro, mas de sua versatilidade comunicativa.



O gerundismo do bem



A adoção do gerúndio em perífrases (como "vou estar lendo") é válida quando:- Se quer mostrar um futuro em relação a outro futuro: "Amanhã não posso viajar porque vou estar carimbando documentos" significa que vou passar o dia a carimbar.
Em "Hoje à noite, vou estar vendo a novela enquanto você vê o futebol", a frase mostra situações diferentes feitas simultaneamente e admitem locução com gerúndio. Em "quando você chegar, eu vou estar dormindo", a ação de "dormir" é contínua e simultânea. O uso está inserido no sistema da língua. É legítimo.
- O verbo implicar duração ou admitir repetição: "Vou estar fechando o balanço da empresa" está no vernáculo, mas "vou estar enviando seu documento" é estranho. É um documento só e a ação é relativamente rápida ou instantânea. Mas em "amanhã, vou estar apertando parafusos o dia todo", a sentença descreve ação contínua.



Usos do gerúndio



Em sua forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso, que pode ser simultânea à do verbo da oração principal ou anterior/posterior a ela.
"Estou desistindo" diz que está em curso um processo de desistência. Anuncia um evento que durará algum tempo para ser concretizado.
Em formas compostas, com dois verbos, o gerúndio pontua uma ação duradoura quando acompanhado do infinitivo de verbos auxiliares (estar, andar, ir e vir) e indica ação concluída antes da expressa pelo verbo da oração principal.
"Tendo concluído a prova, ele a entregou ao professor". A ação concluída antecipa a entrega da prova.
"Ele está falando alto demais". A forma dada ao verbo "falar" indica a ação como presente e com tendência continuativa.
"Ele anda acordando sem ânimo". A ênfase da ação duradoura é na intensidade ou na insistência de um acontecimento.
"A cada dia, mais fiéis vão rezando pela saúde do papa". O verbo "ir" assinala uma ação progressiva em direção a um aqui e agora.
ATENÇÃO ALUNOS:
ESCREVA EM POUCAS LINHAS ABAIXO SOBRE A SEQUINTE QUESTÃO:
QUANDO O GERÚNDIO É CONSIDERADO RUIM E QUANDO É ACEITO COMO CORRETO?

LITERATURA INFANTIL - 3º MAGISTÉRIO - ATIVIDADE VALENDO NOTA!

ATENÇÃO ALUNOS:

RESPONDA AS QUESTÕES LEVANTADAS NOS SLIDES DO VÍDEO. APÓS, AS SEGUINTES QUESTÕES:


1) QUAL A FUNÇÃO DAS HISTÓRIAS PARA AS CRIANÇAS?


2) QUAIS ASPECTOS PODEMOS CONSIDERAR DE UTILIDADE NAS HISTÓRIAS?


3) QUAL OBSERVAÇÕES DEVEMOS TER COM RELAÇÃO AOS TEXTOS LITERÁRIOS INFANTIS?


4) ESPECIFIQUE E JUSTIFIQUE NOMES DE LIVROS QUE VOCÊ CONSIDERE APROPRIADO PARA AS SEGUINTES FASES INFANTIS:


2 A 5 ANOS:

5 A 9 ANOS:

9 A 12 ANOS:

12 A 15 ANOS:

LITERATURA INFANTIL - 3º MAGISTÉRIO

ATENÇÃO MAGISTRANDAS:

VEJA OS SLIDES E FAÇA AS ANOTAÇÕES EM SEU CADERNO. EM SALA DE AULA VAMOS SOCIALIZAR.

O USO DOS PORQUÊS




Usamos por que em dois casos: nas frases interrogativas (que não seja no final) e quando for substituível por pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais: “Por que parou?”; E eles, por que pararam? Note que se subentende a palavra motivo: E eles, por que (motivo) pararam. As dificuldades por que passei foram muitas (As dificuldades pelas quais passei foram muitas).Grafa-se por quê, quando essa expressão estiver próxima a um ponto final:“Parou por quê ?”; Ninguém sabe por quê. Porque é uma conjunção, equivalendo a pois, já que, uma vez que, como:“Parei porque vi violência” Sei que tudo vai dar certo porque não falta empenho.Raras vezes, porque indica finalidade, equivalendo a para que, a fim de:Não julgues porque não te julguem.Grafa-se porquê, quando essa palavra estiver substantivada (antecedida de artigo ou pronome):O porquê da questão não foi esclarecido; Um porquê pode ser grafado de quatro maneiras.
ATENÇÃO:
PARA ABRIR A IMAGEM CORRETA CLIQUE SOBRE A IMAGEM UMA VEZ . APÓS CLIQUE MAIS DUAS VEZES. ASSIM A IMAGEM FICARÁ NÍTIDA.
CONSULTEM SEMPRE QUE NECESSÁRIO!

DISSERTAR - 3ºs CIENTÍFICOS

O professor João Maria analisa texto de Ruy Castro publicado na Folha de S. Paulo


"Ronda" às três da manhãRIO DE JANEIRO - O Ministério da Saúde descobriu que 27% dos brasileiros do sexo masculino tomam mais de cinco doses de bebida alcoólica por dia. A média "normal" em outros países fica entre 10% e 15%. Por que essa diferença? Porque, massacrado pela propaganda na televisão, o brasileiro é estimulado a beber o dia inteiro.
Bebendo, você nunca está sozinho. Há sempre uma gostosa de olho no seu copo. O problema é que você tem de disputá-la com os outros 30 marmanjos bebendo na sua mesa. Todos, por sinal, vendendo saúde, disposição e, contrariando uma das "normas" do Conar, juventude -nenhum deles aparenta nem perto de 25 anos.
O máximo do escárnio aconteceu há pouco, quando um dos patrocinadores oficiais do Pan-Americano foi uma nova cerveja, de nome e apelo decididamente infanto-juvenis. Seria interessante saber se os atletas que eram vistos competindo atingiriam aquelas marcas se tomassem a gororoba com a assiduidade com que ela era apregoada no vídeo -várias vezes por hora.
Outra pesquisa recente revelou que os jovens brasileiros estão bebendo cada vez mais cedo -neste momento, aos 13 anos. Nada de surpreendente nisso, já que a publicidade de cerveja (que representa 61% do consumo de bebidas alcoólicas no país) é toda feita para eles. Nenhum comercial perde tempo mostrando uma roda de homens maduros e mulheres de olheiras se encharcando e engrolando "Ronda" num botequim às três da manhã, como acontece na vida real.
A juventude e a TV brasileiras ficarão mais saudáveis se o governo banir do vídeo, pelo menos das 8h às 20h, a mentira de que cervejas, vinhos, "ices" e "coolers", por conterem "pouco álcool", são inofensivos. A diminuição nos índices de acidentes de trânsito e de violência sexual e doméstica dirá melhor.
Ruy Castro. Folha de S. Paulo, Opinião, 27 de agosto de 2007 Introdução (Tese)Porque, massacrado pela propaganda na televisão, o brasileiro é estimulado a beber o dia inteiro.
Desenvolvimento (Argumentação)

2º. parágrafo
Bebida está acompanhada de companhia e exibicionismo. Tudo de que muitos jovens precisam.

3º. parágrafo
“O máximo do escárnio aconteceu há pouco, quando um dos patrocinadores oficiais do Pan-Americano foi uma nova cerveja, de nome e apelo decididamente infanto-juvenis.” Þ confirmação de que a propaganda influencia o jovem; embora a cerveja não se relacione à saúde ou combine com esporte, patrocinou um evento esportivo.o “Seria interessante saber se os atletas que eram vistos competindo atingiriam aquelas marcas se tomassem a gororoba com a assiduidade com que ela era apregoada no vídeo -várias vezes por hora.” Þ a propaganda usa da repetição, para atrair público e consolidar o produto.Þ o autor usa de interrogativa indireta retórica.

4º parágrafo
“Outra pesquisa recente revelou que os jovens brasileiros estão bebendo cada vez mais cedo -neste momento, aos 13 anos.” frase-guia para desencadear a idéia que ratifica o consumo de pessoas cada vez mais jovens e de que a propaganda vale-se de “um mundo irreal”.
referência à música “Ronda”, de Paulo Vanzolini.

Conclusão

“A juventude e a TV brasileiras ficarão mais saudáveis se o governo banir do vídeo, pelo menos das 8h às 20h, a mentira de que cervejas, vinhos, "ices" e "coolers", por conterem "pouco álcool", são inofensivos.”
apresenta uma solução.
sugere que os acidentes e a violência doméstica, duas chagas modernas, diminuirão.

terça-feira, 28 de julho de 2009

PONTUAÇÃO

Abrir parênteses


Não é de hoje que professores de português não se entendem em relação ao uso dos parênteses. Muitas vezes, a orientação é que, se errou e não pode apagar, o aluno deve pôr entre parênteses a palavra ou expressão errada. Essa recomendação não tem sentido porque os parênteses não têm essa função. Pode até ser mais cômodo, mas não há nada que justifique isso. O que acontece é que, ao usar os parênteses, o autor da mensagem está afirmando que a palavra ou a expressão contida neles é acessória, isto é, não faz falta. Trata-se, geralmente, de uma explicação, de uma reflexão, de um comentário ou de uma observação. Para esclarecer, vejamos um fragmento de texto escrito pelo jornalista Fernando Rodrigues, em seu blog: Para saber se é verdadeiro o tal documento (tem muito jeito de ser...), é necessário que apareça o original. Segundo o empresário Sebastião Buani (o dono do restaurante e pagador confesso do mensalinho), o original teria ficado com Severino... Então... Nota-se, nesse caso, que o jornalista recorreu por duas vezes aos parênteses. Na primeira ocorrência, há um comentário; na segunda, uma explicação. A questão não termina por aí. Há muitas dúvidas, quando o assunto é a pontuação. O ponto fica fora ou dentro dos parênteses? Essa é a pergunta que não se cala. Quem quer usá-los deve considerar a intencionalidade do que vai escrever, pois o ponto ficará fora quando a expressão encerrada nos parênteses fizer parte da oração. Vamos mais uma vez ao texto do já citado jornalista: Argumento dos severinistas: é falso o documento que teria sido assinado por Severino Cavalcanti (autorizando a prorrogação de um contrato da Câmara com um restaurante). Há possibilidade de o ponto ficar dentro dos parênteses: quando estes englobarem toda a oração. Observemos: O bom atacante visa ao gol em todos os instantes. (Acredita em todas as jogadas.) É muito importante ter atenção ao usar os parênteses. (Eles exigem um cuidado especial!)
Quando se fala em pontuação, é comum ocorrerem dúvidas, principalmente no que se refere ao uso da vírgula. As gramáticas registram diversas regras quanto a isso. No geral, algo meio complicado para quem não tem muito tempo para pesquisar. Uma dessas regras diz que a vírgula deve separar o aposto. Outra complicação porque agora é preciso saber o que é o aposto. O aposto é uma palavra ou expressão que explica, especifica ou resume outro termo da oração. Assim, em frases como Guimarães Rosa, escritor, era diplomata o termo escritor explica o substantivo Guimarães Rosa. Mas é essencial lembrar que o aposto pode aparecer antes do termo a que se refere, como no caso desta manchete de um jornal: “Ex-presidente, Fernando Collor, discursa pela primeira vez no Senado”. Antes de analisar a sentença, é importante distinguir os casos em que o aposto vem entre vírgulas ou não. Usa-se isolado por vírgulas o nome de um detentor de um cargo ou a qualificação de uma pessoa quando só uma pessoa pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação: O escritor chegou acompanhado do filho, José. Sem a vírgula, havia a indicação de que o escritor tem mais de um filho. O presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, afirmou que é contra a redução da maioridade penal. Só há um presidente da República.Quando mais de uma pessoa pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação, não existe vírgula: O deputado Gabeira enviou ontem o relatório. Há mais de um deputado. O ex-presidente da República José Sarney é senador pelo Amapá. Há mais de um ex-presidente da República.Isso posto, a frase “Ex-presidente, Fernando Collor, discursa pela primeira vez no Senado” não tem fundamento, uma vez que Collor não é o único ex-presidente da República. Para ter sentido adequado, as vírgulas devem ser retiradas: Ex-presidente Fernando Collor discursa pela primeira vez no Senado”.
Claro está que o uso das vírgulas requer bem mais que cuidado com a pontuação. É necessário atenção quando se quer comunicar com clareza.
Quando se fala em pontuação, é comum ocorrerem dúvidas, principalmente no que se refere ao uso da vírgula. As gramáticas registram diversas regras quanto a isso. No geral, algo meio complicado para quem não tem muito tempo para pesquisar. Uma dessas regras diz que a vírgula deve separar o aposto. Outra complicação porque agora é preciso saber o que é o aposto. O aposto é uma palavra ou expressão que explica, especifica ou resume outro termo da oração. Assim, em frases como Guimarães Rosa, escritor, era diplomata o termo escritor explica o substantivo Guimarães Rosa. Mas é essencial lembrar que o aposto pode aparecer antes do termo a que se refere, como no caso desta manchete de um jornal: “Ex-presidente, Fernando Collor, discursa pela primeira vez no Senado”. Antes de analisar a sentença, é importante distinguir os casos em que o aposto vem entre vírgulas ou não. Usa-se isolado por vírgulas o nome de um detentor de um cargo ou a qualificação de uma pessoa quando só uma pessoa pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação: O escritor chegou acompanhado do filho, José. Sem a vírgula, havia a indicação de que o escritor tem mais de um filho. O presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, afirmou que é contra a redução da maioridade penal. Só há um presidente da República.Quando mais de uma pessoa pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação, não existe vírgula: O deputado Gabeira enviou ontem o relatório. Há mais de um deputado. O ex-presidente da República José Sarney é senador pelo Amapá. Há mais de um ex-presidente da República.Isso posto, a frase “Ex-presidente, Fernando Collor, discursa pela primeira vez no Senado” não tem fundamento, uma vez que Collor não é o único ex-presidente da República. Para ter sentido adequado, as vírgulas devem ser retiradas: Ex-presidente Fernando Collor discursa pela primeira vez no Senado”.
Claro está que o uso das vírgulas requer bem mais que cuidado com a pontuação. É necessário atenção quando se quer comunicar com clareza.
DICA DE LIVRO:

O USO DA VÍRGULA
Thaís Nicoleti de Camargo

Esta obra comenta e explica as principais regras de uso da vírgula no português moderno do Brasil.
A série Entender o português é constituída de vários volumes de apoio didático que tratam, de maneira prática e simplificada, de alguns dos mais problemáticos assuntos da língua portuguesa em sua norma culta. Escritos por professores e especialistas no ensino da língua, os volumes da coleção preenchem uma lacuna na literatura contemporânea sobre o português e o ato de escrever. Tornam-se, portanto, instrumentos indispensáveis para estudantes de nível médio, vestibulandos e todos aqueles que precisam valorizar os meios expressivos do idioma.Com explicações claras, logicamente organizadas por tópicos e ampliadas por exercícios com respostas a partir de dificuldades progressivas, esta série também permite que o leitor aprenda sozinho, resolva facilmente suas dúvidas e faça consultas sempre que necessário.Neste volume, Uso da Vírgula,Thaís Nicoleti de Camargo, professora e consultora da Folha de S.Paulo, comenta e explica as principais regras de uso da vírgula no português moderno do Brasil, com exemplos e exercícios concretos de uso, tirados de sua experiência no próprio jornal.

REDUNDÂNCIA TAUTOLÓGICA EM JEITO DE PLEONASMO


Redundância tautológica em jeito de pleonasmo

É tão fácil cair na redundância que quase ninguém resiste a dizer "elo de ligação" ou "tenho um amigo meu". O dicionário Priberam, aliás, informa que a tautologia consiste numa «repetição inútil da mesma ideia em termos diferentes» - ou seja, exemplificando, ao mesmo tempo que define o conceito: tratando-se de uma repetição, para quê dizer que a ideia é «a mesma»?! Isto dá para ver como a tautologia é uma espécie de armadilha em que ninguém deve ter a veleidade de dizer que não cai ou nunca cairá...Se nos repetimos desnecessariamente, para além de estarmos sujeitos a que se riam de nós ou nos corrijam, ainda podemos induzir os outros em erro, a respeito do que realmente queremos dizer. Quando alguém comenta que "gostou tanto da comida, que repetiu duas vezes", fico sempre na dúvida: serviu-se três vezes ou caiu na malfadada tautologia? Ontem ouvi alguém dizer na rádio que «os alunos repetiam novamente o mesmo ano». Fiquei sem saber se havia ali uma dupla redundância ou se devia fazer uma interpretação mais rebuscada da frase.Hoje li numa publicação periódica um artigo (interessante, é preciso dizer), cujo infeliz título era este: «Morte súbita ocorre sem aviso prévio». Sendo o assunto sério, acho mal que nos façam rir do texto logo ao início!E por falar em rir...

ATENÇÃO ESTIMADOS ALUNOS:
LEIA O TEXTO ACIMA E VEJA O VÍDEO. DEPOIS FAÇA PELO MENOS UM PARÁGRAFO EM SEU CADERNO USANDO TAUTOLOGIAS. APÓS HAVERÁ APRESENTAÇÕES NA SALA DE AULA.

A IMPORTÂNCIA DA PRENSA DE GUTEMBERG PARA A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA -













ATENÇÃO ALUNOS:
ESCREVAM NOS SEUS LINDOS CADERNOS (ASSIM ESPERO QUE SEJAM) AS RESPOSTA PARA AS SEGUINTES PERGUNTAS:

1) COMO SURGIU A PRENSA PARA ESCRITA?

2) QUAL A SUA IMPORTÂNCIA?

3) QUAL FOI O PRIMEIRO LIVRO A UTILIZAR DESSA TECNOLOGIA?

4) POR QUE PODEMOS CONSIDERAR A INVENÇÃO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA?


A IMPORTÂNCIA DA PRENSA DE GUTEMBERG PARA A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

Mesmo depois de inventado o alfabeto e o papel, poucas pessoas sabiam ler e escrever. Naquele tempo, somente alguns privilegiados - poucos nobres, os frades nos conventos, os sábios - dominavam a escrita e a leitura. Os livros tinham que ser escritos a mão, um a um, com aquelas penas de ganso no lugar de caneta.Foi um ourives alemão chamado Gutemberg que, em 1450, teve a idéia para resolver esse problema. Primeiro, ele decidiu fazer muitos carimbinhos de metal para cada letra do alfabeto. Depois, juntava os carimbinhos, um de cada letra, e montava um carimbo maior com uma palavra ou frase inteira. Uma máquina chamada prensa, aperfeiçoada por ele, servia, então, para apertar o carimbão, molhado de tinta preta, sobre o papel. Ele podia reproduzir a mesma página quantas vezes quisesse. Estava inventada a imprensa.Com esta invenção, foi possível fazer muitos livros em pouco tempo. As pessoas puderam ter seu próprio livro em casa, para estudar e aprender a ler e escrever. O primeiro livro que Gutemberg imprimiu foi a bíblia. Algumas dessas bíblias existem até hoje e estão guardadas e protegidas em museus - duas delas estão na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - e valem muito dinheiro. Mas Gutemberg - coitadinho - morreu pobre, sem saber que a imprensa é considerada a invenção mais importante da história. Ziraldo

Ziraldo: "LER É MAIS IMPORTANTE QUE ESTUDAR" 3º ANOS - CIENTÍFICO E MAGISTÉRIO

ATENÇÃO ALUNOS:
ESCREVA SEU NOME, TURMA QUE ESTUDA, E DEIXE SEU COMENTÁRIO ABAIXO A RESPEITO DESTE TEMA:

Ziraldo: "Ler é Mais Importante do que Estudar"


Há mais de dez anos venho falando pelo Brasil a fora sobre a importância primordial do aprendizado completo e total da leitura no ensino fundamental. Saí por aí, com meus cartazes, repetindo: "Ler é mais importante do que estudar." Recentemente, de quarenta e um países escolhidos a esmo para serem testados sobre o aproveitamento da leitura e do conhecimento colegial adquirido por seus jovens, o Brasil só ficou à frente da Mauritânia, da Indonésia, da Albânia e do Peru...Viajando pelo interior do Brasil, de cidade em cidade, de escola em escola, há mais de vinte anos, não canso de ver crianças completamente analfabetas "cursando" a quarta série de primeiro grau. É na escola que o homem vai, criança, iniciar-se no processo de ordenar a massa de informação com que a vida o espera. Dominar os códigos para esse ordenamento da informação deve ser o correto começo de tudo. Em qualquer esporte coletivo, por exemplo, o atleta só poderá praticar plenamente todo o jogo se dominar seus fundamentos. Ele jamais será, por exemplo, um bom jogador de basquete se não souber como quicar uma bola sem olhar para ela, como cobrar um lance livre ou não andar ao entrar na bandeja. Da mesma forma, nenhum ser humano poderá ser educado (ordenar a informação e o conhecimento a receber) se não dominar seus fundamentos. Sem saber ler o suficiente pra entender o que lê e sem saber escrever para expressar-se plenamente como é que ele vai estudar?A escola teria, então, que desenvolver, no seu começo, o fundamento da leitura e da escrita, e mais, apenas, os fundamentos aritméticos (as quatro operações) .Convencionou-se que são quatro os anos necessários para que a criança esteja preparada para o chamado segundo período. Nesses quatro anos, pois, a escola ideal deveria entregar ao ciclo seguinte uma criança sabendo ler e escrever como quem respira. E, logicamente, dominando totalmente as quatro operações (sem angústias ou castigos), sabendo como respeitar o próximo, na convivência diária (e sabendo a regra de três simples, pra poder desenhar o caminho de volta à casa).Que nos próximos anos, a escola fundamental brasileira passe a cuidar apenas de que suas crianças dominem o código vital da leitura e da escrita.Sejamos radicais: apenas ler, escrever e gostar de ler!Uma criança de dez anos que lê como quem respira, que gosta de ler, que lê como quem está usando mais um, além dos seus cinco sentidos, estará preparada pra receber toda a informação de que vai necessitar para enfrentar a vida. E aí eu continuo repetindo: ler é mais importante do que estudar. Não é, não?!...

AFINAL, O QUE É CONSTRUTIVISMO? 3º MAGISTÉRIO




Quando alguém se interessa pelo que faz, é capaz de empreender esforços até o limite de sua resistência física”. Jean Piaget


"... A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa" (Emília Ferreiro)



Em síntese: o que é o Construtivismo ? O Construtivismo é uma teoria. Não podemos dizer que se trata de um mero modismo, como ouvimos muitas vezes nossos professores dizerem. Trata-se de uma teoria e como tal, pode, como qualquer outra teoria, ser substituída ou modificada radicalmente por outra. O QUE É SÓCIO-CONSTRUTIVISMO? O Sócio-construtivismo propõe construir o conhecimento baseando-se nas relações dos alunos com a realidade, valorizando e aprofundando o que a criança já sabe. O conhecimento e a inteligência vão se desenvolvendo passo a passo, num processo de construção que é tão importante quanto o próprio conhecimento. O professor é responsável por ajudar o aluno neste processo. As crianças crescem mais críticas e capazes de aprender por si. A criança é incentivada a desenvolver o senso de responsabilidade pelo próprio aprendizado.
Os pressupostos da Teoria Construtivista de Jean Piaget
Os estudos sobre a Teoria Construtivista começaram com Piaget (1896-1980), que foi um biólogo com preocupações eminentemente epistemológicas (Teoria da Conhecimento), numa perspectiva interdisciplinar. A grande pergunta que formulou foi: "Como se passa de um conhecimento menos elaborado para um conhecimento mais elaborado?" Pesquisou e elaborou uma teoria sobre os mecanismos cognitivos da espécie (sujeito epistêmico) e dos indivíduos (sujeito psicológico). Piaget, entendendo ser praticamente impossível remontar aos primórdios da humanidade e compreender qual foi, efetivamente, o processo de desenvolvimento cognitivo desde o homem primitivo até os dias atuais (Filogênese), voltou-se para o desenvolvimento da espécie humana, do nascimento até a idade adulta (Ontogênese). Assim se explica o fato de que, para conhecer como o sujeito epistêmico (sujeito que conhece) constrói conhecimento, tenha recorrido à Psicologia como campo de pesquisa. Ao elaborar a Teoria Psicogenética, procurou mostrar quais as mudanças qualitativas por que passa a criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prática (período sensório-motor), até o pensamento formal, lógico-dedutivo, a partir da adolescência. Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo). Resulta das ações e interações do sujeito com o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, através de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou cultural. Segundo Piaget, o conhecimento resulta de uma interrelação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.O significado dos termos assimilação, acomodação, adaptação e equilibração na Teoria Construtivista Segundo a Teoria Construtivista, o sujeito é ativo e em todas as etapas de sua vida procura conhecer e compreender o que se passa à sua volta. Mas não o faz de forma imediata, pelo simples contato com os objetos. Suas possibilidades, a cada momento decorrem do que Piaget denominou esquemas de assimilação, ou seja, esquemas de ação (agitar, sugar, balançar) ou operações mentais (reunir, separar, classificar, estabelecer relações), que não deixam de ser ações mas se realizam no plano mental. Estes esquemas se modificam como resultado do processo de maturação biológica, experiências, trocas interpessoais e transmissões culturais. Por outro lado, os objetos do conhecimento apresentam propriedades e particularidades que nem sempre são assimiladas (incorporadas) pelos esquemas já estruturadas no sujeito. Isto ocorre, ou porque o esquema assimilado é muito geral e não se aplica a uma situação particular, ou porque é ainda insuficiente para dar conta de um objeto mais complexo. Assim, uma criança que já construiu o esquema de sugar, assimila a mamadeira, mas terá que modificar o esquema para sugar a chupeta, comer com colher, etc. Outro exemplo: um aluno que já construiu o conceito de transformação, terá que compreendê-lo tanto em situações específicas da vida cotidiana, como em conteúdos de História, Geografia, Biologia, etc. A este mecanismo de ampliação ou modificação de um esquema de assimilação, Piaget chamou de acomodação. E fica claro que, embora seja "provocado" pelo objeto, é também possível graças à atividade do sujeito, pois é este que se modifica para a construção de novos conhecimentos. O conteúdo das assimilações e acomodações variará ao longo do processo de desenvolvimento cognitivo, mas a atividade inteligente é sempre um processo ativo e organizado de assimilação do novo ao já construído, e de acomodação do construído ao novo. Fica assim estabelecida a relação do sujeito conhecedor e do objeto conhecido. Por aproximações sucessivas, articulando assimilações e acomodações, completa-se o processo a que Piaget chamou de adaptação. A cada adaptação realizada, novo esquema assimilador se torna estruturado e disponível para que o sujeito realize novas acomodações e assim sucessivamente. O que promove este movimento é o processo de equilibração, conceito central na teoria construtivista. Diante de um desafio, de um estímulo, de uma lacuna no conhecimento, o sujeito se "desequilibra" intelectualmente, fica curioso, instigado, motivado e, através de assimilações e acomodações, procura restabelecer o equilíbrio que é sempre dinâmico, pois é alcançado por meio de ações físicas e/ou mentais. O pensamento vai se tornando cada vez mais complexo e abrangente, interagindo com objetos do conhecimento cada vez mais abstratos e diferenciados.
Os objetivos da educação numa visão Construtivista
Para Piaget, ter assegurado o direito à educação, significa ter oportunidades de se desenvolver, tanto do ponto de vista intelectual, como social e moral. Cabe à sociedade, através de instituições como a família e a escola, propiciar experiências, trocas interpessoais e conteúdos culturais que, interagindo com o processo de maturação biológica, permitam à criança e ao adolescente atingir capacidades cada vez mais elaboradas, de conhecer e atuar no mundo físico e social. Como enfatiza Piaget, a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão de regras sociais não são inatas, ou seja, pré-formadas na criança, nem são impostas de fora para dentro, por pressão do meio. São construídas por cada indivíduo ao longo do processo de desenvolvimento, processo este entendido como sucessão de estágios que se diferenciam um dos outros, por mudanças qualitativas. Mudanças que permitam, não só a assimilação de objetos de conhecimento compatíveis com as possibilidades já construídas, através da acomodação, mas também sirvam de ponto de partida para novas construções (adaptação). Para que este processo se efetive, é importante considerar o principal objetivo da educação que é a autonomia, tanto intelectual como moral.
Os estágios de desenvolvimento por que passa o ser humano segundo a Teoria Construtivista de Piaget Estágio sensório-motor - desenvolvimento inicial das coordenações e relações de ordem entre as ações, início de diferenciação entre os objetos e entre o próprio corpo e os objetos; aos 18 meses, mais ou menos, constituição da função simbólica (capacidade de representar um significado a partir de um significante). No estágio sensório-motor o campo da inteligência aplica-se a situações e ações concretas. (0 a 2 anos) Estágio pré-operatório - reprodução de imagens mentais, uso do pensamento intuitivo, linguagem comunicativa e egocêntrica, atividade simbólica pré-conceitual, pensamento incapaz de descentração. (2 a 6 anos) Estágio operatório concreto - capacidade de classificação, agrupamento, reversibilidade, linguagem socializada; atividades realizadas concretamente sem maior capacidade de abstração; (7 a 11 anos) Estágios das operações formais (11/12 anos em diante) - transição para o modo adulto de pensar, capacidade de pensar sobre hipóteses e idéias abstratas, linguagem como suporte do pensamento conceitual;
Como Piaget e Vigotsky concebem o processo de desenvolvimento e os pontos de divergência entre estes dois teóricos
O referencial histórico-cultural apresenta uma nova maneira de entender a relação entre sujeito e objeto, no processo de construção do conhecimento. Enquanto no referencial construtivista o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade (sendo o sujeito considerado ativo), para Vigotsky, esse mesmo sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque constitui conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intra-pessoais. Desta forma, o sujeito do conhecimento, para Vigotsky, não é apenas passivo, regulando por forças externas que o vão moldando; não é somente ativo, regulado por forças internas; ele é interativo. Ao nascer, a criança se integra em uma história e uma cultura: a história e a cultura de seus antepassados, próximos e distantes, que se caracterizam como peças importantes na construção de seu desenvolvimento. Ao longo dessa construção estão presentes: as experiências, os hábitos, as atitudes, os valores e a própria linguagem daqueles que interagem com a criança, em seu grupo familiar. Então, ainda, presentes nesta construção a história e a cultura de outros indivíduos com quem a criança se relaciona e em outras instituições próximas como, por exemplo, a escola, ou contextos mais distantes da própria cidade, estado, país ou outras nações. Mas, não devemos entender este processo como um determinismo histórico e cultural em que, passivamente, a criança absorve determinados comportamentos para reproduzi-los, posteriormente. Ela participa ativamente da construção de sua própria cultura e de sua história, modificando-se e provocando transformações nos demais sujeitos que com ela interagem. Enquanto para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para Vigotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais: "O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que , de outra forma, seriam impossíveis de acontecer." (Vigotsky, 1987:101) Esse aprendizado se inicia muito antes da criança entrar na escola, pois, desde que nasce e durante seus primeiros anos de vida, encontra-se em interação com diferentes sujeitos - adultos e crianças - e situações, o que vai lhe permitindo atribuir significados a diferentes ações, diálogos e vivências. Muito embora a aprendizagem que ocorre antes da chegada da criança à escola seja importante para o seu desenvolvimento, Vigotsky atribui um valor significativo à aprendizagem escolar que, no seu dizer, "produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança". (1987:95)
Bibliografia:
Piaget J.:
Para onde vai a educação? RJ, José Olympio, 1973.
O desenvolvimento do raciocínio na criança. RJ, Record, 1977.
Epistemologia Genética. SP, Martins Fontes, 1990.
A formação do símbolo na criança. RJ, Sahar, 1973.
Psicologia e Pedagogia. RJ, Forense, 1969.
A linguagem e o pensamento. SP, Martins Fontes, 1986.
Vigotsky L.:
A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1987.
Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988.
Psicologia e Pedagogia. Lisboa, Estampa, 1977.
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. SP, Ícone, 1988.______________________

Psicogênese da língua escrita
Os anos 80 assistiram, no Brasil e na América Latina, a um crescente interesse pelo tema da alfabetização inicial. A constituição e o aprofundamento dos debates sobre este tema específico podem ser testemunhados pelo grande número de seminários, mesas-redondas, artigos e textos publicados durante o período. A difusão rápida das idéias de Emilia Ferreiro dirigiu grande parte da reflexão teórica e da discussão sobre a alfabetização, não só entre pesquisa­dores, mas também entre um grande número de professores atingidos pela divulgação dos postulados desta pesquisadora.

Emilia Ferreiro com todas as letras
Emilia Ferreiro, psicóloga e pesquisadora argentina, radicada no México, fez seu doutorado na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget e, ao contrário de outros grandes pensadores influentes como Piaget, Vygotsky, Montessori, Freire, todos já falecidos, Ferreiro está viva e continua seu trabalho. Nasceu na Argentina em 1937, reside no México, onde trabalha no Departamento de Investigações Educativas (DIE) do Centro de Investigações e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional do México.
Fez seu doutorado sob a orientação de Piaget – na Universidade de Genebra, no final dos anos 60, dentro da linha de pesquisa inaugurada por Hermine Sinclair, que Piaget chamou de psicolingüística genética. Voltou em 1971, à Universidade de Buenos Aires, onde constituiu um grupo de pesquisa sobre alfabetização do qual faziam parte Ana Teberosky, Alicia Lenzi, Suzana Fernandez, Ana Maria Kaufman e Lílian Tolchinsk.
Emilia Ferreiro procurou observar como se realiza a construção da linguagem escrita na criança. Autora de várias obras, muitas traduzidas e publicadas em português, já esteve algumas vezes no país, participando de congressos e seminários.
A entrevista abaixo foi montada a partir de textos de Emilia Ferreiro publicados no livro "Com Todas as Letras".
ReConstruir - Como a senhora vê a alfabetização na América Latina? Emilia Ferreiro - É difícil falar de alfabetização evitando as posturas dominantes neste campo: por um lado, o discurso oficial e, por outro, o discurso meramente ideologizante, que chamarei "discurso da denúncia". O discurso official centra-se nas estatísticas; o outro despreza essas cifras tratando do desvelar "a face oculta" da alfabetização.
ReConstruir - Qual é a sua opinião sobre a aprovação automática? Emilia Ferreiro - A promoção automática tem sérios oponentes dentro e fora das fileiras do magistério: sustentam que é uma medida que leva a "baixar a qualidade do ensino" e que faz desaparecer o que seria um dos estímulos fundamentais da aprendizagem (a promoção). A contra-argumentação é evidente: não será porque a qualidade do ensino é tão má que tantas crianças não conseguem aprender? A promoção automática, por si só, não faz senão deslocar o "funil da repetência", criando, em nível de outra série do ensino fundamental, um problema novo para resolver.
ReConstruir - Sabendo que a realidade de muitos países da América Latina é o subdesenvolvimento, como fica a qualidade da alfabetização de crianças e adultos? Emilia Ferreiro - A alfabetização parece enfrentar-se com um dilema: ao estender o alcance dos serviços educativos, baixa-se a qualidade, e se consegue apenas um "mínimo de alfabetização". Isso é alcançar um nível "técnico rudimentar", apenas a possibilidade de decodificar textos breves e escrever palavras, porém sem atingir a língua escrita como tal. Nada garante que tais aquisições perdurem, sobretudo se levarmos em conta que a vida rural nos países da região ainda não requer um uso cotidiano da língua escrita. Mais ainda: por mais bem sucedidas que sejam as campanhas de alfabetização de adultos, não há garantias de se alcançar percentagens de alfabetização altas e duráveis enquanto a escola primária não cumprir eficazmente sua tarefa alfabetizadora. Na medida em que a escola primária continuar expulsando grupos consideráveis de crianças que não consegue alfabetizar, continuará reproduzindo o anafalbetismo dos adultos.
ReConstruir - Quem é melhor de ser alfabetizado: a criança ou o adulto? Emilia Ferreiro - De todos os grupos populacionais, as crianças são as mais facilmente alfabetizáveis. Elas têm mais tempo disponível para dedicar à alfabetização do que qualquer outro grupo de idade e estão em processo contínuo de aprendizagem, dentro e fora do contexto escolar, enquanto os adultos já fixaram formas de ação e de conhecimento mais difíceis de modificar.
ReConstruir - Quais são os objetivos da alfabetização inicial? Emilia Ferreiro - Frequentemente esses objetivos se definem de forma muito geral nos planos e programas, e de uma maneira muito contraditória na prática cotidiana e nos exercícios propostos para a aprendizagem. É comum registrar nos objetivos expostos nas introduções de planos, manuais e programas, que a criança deve alcançar "o prazer da leitura" e que deve ser capaz de "expressar-se por escrito". As práticas convencionais levam, todavia, a que a expressão escrita se confunda com a possibilidade de repetir fórmulas estereotipadas, a que se pratique uma escrita fora do contexto, sem nenhuma função comunicativa real e nem sequer com a função de preservar informação. Um dos resultados conhecidos de todos é que essa expressão escrita é tão pobre e precária que inclusive aqueles que chegam à universidade apresentam sérias deficiências que levaram ao escândalo da presença de "oficinas de leitura e de redação" em várias instituições de nível superior da América Latina. Outro resultado bem conhecido é a grande inibição que os jovens e adultos mal alafabetizados apresentam com respeito à língua escrita: evitam escrever, tanto por medo de cometer erros de ortografia como pela dificuldade de dizer por escrito o que são capazes de dizer oralmente.
ReConstruir - Como deve ser trabalhada a leitura no processo de alfabetização? Emilia Ferreiro - O "prazer da leitura" leva a privilegiar um único tipo de texto: a narrativa ou a literatura de ficção, esquecendo que uma das funções principais da leitura ao longo de toda a escolaridade é a obtenção de informação a partir de textos escritos. Ainda que as crianças devam ler nas aulas de Estudos Sociais, Ciências Naturais e Matemática, essa leitura aparece dissociada da "leitura" que corresponde às auilas de língua. Um dos resultados é, uma vez mais, um déficit bem conhecido em nível dos cursos médio e superior: os estudantes não sabem resumir um texto, não são capazes de reconhecer as idéias principais e, o que é pior, não sabem seguir uma linha argumentativa de modo a identificar se as conclusões que se apresentam são coerentes com a argumentação precedente. Portanto, não são leitores críticos capazes de perguntar-se, diante de um texto, se há razões para compartilhar do ponto de vista ou da argumentação do autor.
ReConstruir - A metodologia, então, deve ser mudada? Emilia Ferreiro - A ênfase praticamente exclusiva na cópia, durante as etapas iniciais da aprendizagem, excluindo tentativas de criar representações para séries de unidades linguísticas similares (listas) ou para mensagens sintaticamente elaboradas (textos), faz com que a escrita se apresente como um projeto alheio à própria capacidade de compreensão. Está ali para ser copiado, reproduzido, porém não compreendido, nem recriado.
ReConstruir - Você afirma que a compreensão das funções da língua escrita na sociedade depende de como a família e a escola estimulam o ambiente alfabetizado... Emilia Ferreiro - As crianças que crescem em famílias onde há pessoas alfabetizadas e onde ler e escrever são atividades cotidianas, recebem esta informação através da participação em atos sociais onde a língua escrita cumpre funções precisas. Por exemplo, a lista de compras do mercado; uma busca na lista telefônica de algum serviço de conserto de aparelhos quebrados; o recebimento de um recado que deve ser lido por outro familiar. Essa informação que uma criança que cresce em um ambiente alfabetizado recebe cotidianamente é inacessível para aqueles que crescem em lares com níveis de alfabetização baixos ou nulos. Isso é o que a escola "dá por sabido", ocultando assim sistematicamente, àqueles que mais necessitam, para que serve a língua escrita.
ReConstruir - Mas o aprendizado não deve ser feito num ambiente de criatividade? Emilia Ferreiro - Por mais que se repita nas declarações iniciais dos métodos, manuais ou programas, que a criança aprende em função de sua atividade, e que se tem que estimular o raciocínio e a criatividade, as práticas de introdução à língua escrita desmentem sistematicamente tais declarações. O ensino neste domínio continua apegado às práticas mais envelhecidas da escola tradicional, aquelas que supõem que só se aprende algo através da repetição, da memorização, da cópia reiterada de modelos, da mecanização.
ReConstruir - Existe saída para termos uma melhor alfabetização? Emilia Ferreiro - Com base em uma série de experiências inovadoras de alfabetização, parece viável estabelecer de maneira diferente os objetivos da alfabetização de crianças. Em dois anos de escolaridade crianças muito marginalizadas podem conseguir uma alfabetização de melhor qualidade, entendendo por isso: compreensão do modo de representação da linguagem que corresponde ao sistema alfabético da escrita; compreensão das funções sociais da escrita; leitura compreensiva de textos que correspondem a diferentes registros de língua escrita; produção de textos respeitando os modos de organização da língua escrita que correspondem a esses diferentes registros; atitude de curiosidade e falta de medo diante da língua escrita.
Emilia Ferreiro
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Continue a leitura da Edição 67 da Revista ReConstruir.